A mentira que hoje eu sofro em dizer-te, é a verdade que não consigo esquecer. Se imaginasses o quanto o meu coração se aperta dentro do meu corpo flagelado, repleto de dor por não poder contrariar este sentimento que atropela a minha normalidade mental.
O meu mundo explode de raiva sempre que da tua boquinha inocente, do teu coração desconsolado sai a amargurada pergunta da mais genuína incompreensão da ausência, da perfeita imensidão de saudade que uma filha tem, a quem a vida não permite abraçar, a quem não lhe é dado o direito primário de sentir o calor do beijo da sua mãe. Como tu, eu também não compreendo, mas por ti, sou obrigado aceitar a verdade.
A minha maior inquietação é ter a consciência da tua dor, do imensurável sofrimento desse teu coração ainda frágil, tão necessitado do amor que de ti partiu, que não te abandonou por vontade própria, que o destino ou seja lá o que for te roubou injustamente.
A cada prostração que tens, eu sinto a tua tristeza brotar pelos teus olhos, imagino os teus pensamentos inundados de incertezas, inocentemente procurando respostas para as quais não consegues responder. Nesse momento desejava fazer-te entender o quanto ela te amava, mas também tenho em mim a certeza que a tua mãe, esteja ela onde estiver, ama-te tanto, mas tanto, que todas as palavras serão poucas para o demonstrar.
O amor e a dedicação que ela por ti tinha é impossível de quantificar, talvez nunca irás ter a percepção do quanto ela movia montanhas para que tu fosses feliz, mas se acreditas em mim, cada palavra que eu te disser será a verdade mais pura de quem como tu também sente a dor. A dor incompreendida de nos ter sido roubado algo de tão precioso.
Acredita, tu eras, tu és e eternamente serás o seu grande amor. Tu para ela eras a fonte que lhe dava vida, eras a luz de todas as manhãs, eras simplesmente a razão que fazia com que ela vivesse cada dia.
Eu amo-te muito, mas tenho em mim, que o amor dela era superior a qualquer outra paixão. Cada abraço, cada beijo, mesmo cada castigo era do mais puro amor que uma mãe dá a uma filha. Como a noite guarda as estrelas, ela segurava-te no coração, porque só tu eras o seu mundo, cada passo que dava, cada pensamento, cada desejo, cada preocupação tu eras a razão.
Eu guardo em mim o desejo, e tudo farei para que aconteça que um dia, tu olhando uma fotografia da tua mãe, digas, eu amo-te, eu sei que foi muito, muito pouco o nosso tempo, mas será infinito o nosso amor e a estrela que olho à noite, e desejo que sejas tu, a minha mãe brilhando para mim, fique no meu coração como algo interminável, como a mulher que me deu a vida, mas que Deus chamou para junto dele, mas em mim a cada dia que passa seguro no meu coração o grande amor que me terias.
Desculpa minha princesa que eu não possa dizer ou fazer mais que te aconchegar, e deixar a cada dia no teu coração o quanto te dou e que é impossível de ser o que ela, a tua mãe te daria.
Apenas desejo que eu e tu sejamos a janela por onde é permitido entrar a esperança, o amor infinito de quem partiu, estando aqui.
Paulo Semide
- Espaço livre para publicações de crónicas e poemas. Os textos não são editados nem alterados.
- A responsabilidade pelo texto aqui redigido é inteiramente do autor e seu envio é registado via assinatura digital.
- Tens uma crónica ou um poema? Enviem-nos para info@paivense.pt ou por mensagem em nossa página no Facebook