Cerca de três meses depois da realização de um espectáculo de dança na Igreja da Misericórdia, em Leiria, estala a polémica, com a divulgação de imagens da performance nas redes sociais. Os vereadores locais do PSD e a Igreja Católica mostram-se chocados e indignados com os movimentos e com os trajes dos bailarinos.
O tema foi debatido na reunião da Câmara Municipal de Leiria da passada quarta-feira, relata o Público, dando nota da indignação dos vereadores do PSD na autarquia, bem como da Diocese local, depois de confrontados com imagens publicadas na Internet.
Em causa está um espectáculo de dança moderna realizado no âmbito do festival de artes performativas Metadança, e que teve lugar na Igreja da Misericórdia de Leiria. Este espaço deixou de ser usado para fins religiosos em 2014, por decisão do então Bispo de Leiria-Fátima, agora Cardeal António Marto, e foi transformado no Centro de Diálogo Intercultural.
“A Igreja da Misericórdia não é um espaço público e profano qualquer” e “não pode ser utilizado para fins considerados contra os princípios da moral e da ética cristãs”, lamenta o vereador do PSD Fernando Costa em declarações divulgadas pelo jornal Região de Leiria.
“Eu que sou cristão, católico, não praticante, sinto-me ofendido por o senhor vereador da Cultura estar a tratar a Igreja da Misericórdia como um palco qualquer, como se não tivesse sido uma igreja, como se não estivesse lá um altar e as imagens religiosas”, critica ainda Fernando Costa, notando que um espectáculo que ofende “as tradições religiosas é inapropriado” e “inadmissível”.
Já o vereador Álvaro Madureira, também do PSD, refere à mesma publicação que “choca ver jovens com vestimentas menos adequadas, em cima do altar, em posições que chocam para o contexto e para o espaço”.
Nas redes sociais, há várias pessoas a manifestarem-se contra a realização do espectáculo em que os bailarinos surgem em tronco nu e as bailarinas apenas vestidas com cuecas e soutien.
No blogue Senzapagare fala-se mesmo de “dança sensual”, considerando-se que foi dado “um uso sórdido, e por isso ilegítimo” ao local, “com a agravante acrescida de que foram deixadas na igreja as imagens sacras e até o sacrário”. “Aquelas imagens escandalizaram os fiéis e é-lhes devida uma explicação e uma reparação do mal feito”, frisa-se ainda.
O blogue O Dogma da Fé é ainda mais crítico, mencionando “uma obra coreográfica com alguns contornos orgíacos e satânicos” e falando de um “acto de dessacralização da antiga Igreja”.
A organização do Metadança explica ao Público que “o festival e a equipa formada por alunos da Escola Superior de Dança e que contribuiu para a criação desta performance não veiculou qualquer tipo de manifestação anti-religiosa ou quis utilizar a Igreja para fins sórdidos, sendo que a fisicalidade e a coreografia apresentada no local não evocam nem se enquadram no conceito de sórdido”.
O vereador da Cultura da Câmara assegura ao Jornal de Leiria que não chegou à autarquia “qualquer reclamação”, notando também que esta “não visiona previamente” os espectáculos a serem apresentados, nem tem que os autorizar, o que “seria censura”.
A Diocese de Leiria, por seu turno, pede “bom-senso a fim de respeitar a memória histórica e os símbolos cristãos do edifício”, como cita o Jornal de Leiria.
SV, ZAP //
Fonte: ZAP