Cavaco Silva garante que António Costa lhe disse que “entendimentos” do PS “com o PCP e o Bloco de Esquerda seriam impossíveis”. Uma revelação que consta do segundo volume de memórias do ex-Presidente da República e que inclui também críticas à “infantilidade” de Paulo Portas.
O livro “Quinta-feira e Outros dias – da Coligação à «Geringonça»”, a segunda parte das memórias de Cavaco Silva enquanto Presidente da República, vai ser lançado no próximo dia 24 de Outubro, num evento na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, mas a Rádio Renascença antecipa alguns extractos da obra.
Um dos capítulos do livro é dedicado à actual solução de Governo, com Cavaco Silva a garantir que António Costa lhe disse, “em 10 de Outubro de 2014, já eleito líder do PS”, que “entendimentos com o PCP e o BE seriam impossíveis“.
“Tratava-se da posição dominante do PS desde os tempos da liderança de Mário Soares”, escreve Cavaco, notando que “os líderes do PS com quem trabalhara como Presidente da República, José Sócrates e António José Seguro, haviam sido sempre categóricos na afirmação de que o PCP e o BE eram partidos em quem não se podia confiar, empenhados em criar um clima revolucionário no País e minar os alicerces da nossa democracia”.
Cavaco também frisa que “o primeiro ano do Governo do PS presidido por António Costa não foi bom para o País”, considerando que o Executivo liderado por Passos Coelho tinha criado “as condições para um novo ciclo de crescimento e de melhoria do bem-estar dos portugueses”, depois de retirar Portugal da “situação de pré-bancarrota a que o Governo socialista de José Sócrates, contra todos os avisos, conduzira o país”.
Postura de Portas foi “absolutamente inaceitável”
Noutro capítulo da obra, o ex-Presidente da República é muito duro relativamente a Paulo Portas, devido ao episódio da demissão “irrevogável”, em Julho de 2013, confirmando que a postura do ex-vice-primeiro-ministro do Governo PSD/CDS foi motivada pela escolha de Maria Luís Albuquerque para substituir Vítor Gaspar como ministra das Finanças.
“Não se sentia mobilizado e estava incomodado com a escolha de Maria Luís Albuquerque para Ministra das Finanças, porque ela iria ser a continuação da política de Vítor Gaspar”, escreve Cavaco, considerando que “a decisão de Paulo Portas era um completo absurdo“.
O ex-Presidente acrescenta que “fazer um comunicado anunciando a demissão em cima da posse da nova ministra das Finanças, que teria lugar uma hora depois”, lhe parecia “uma infantilidade pouco patriótica“. Cavaco acusa Portas de pretender, “propositadamente, destruir a credibilidade da nova titular da pasta”, numa atitude que define como “absolutamente inaceitável“.
Destaque ainda para as palavras de Cavaco Silva sobre Joana Marques Vidal, a propósito da conversa que teve com ela aquando da sua nomeação para o cargo de Procuradora-Geral da República.
“Surpreendeu-me a franqueza de Joana Marques Vidal ao afirmar que era uma pessoa de esquerda, vista como não alinhada com o Governo em funções e que a sua nomeação podia dar lugar a críticas pelo facto de ter pertencido ao Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, de o seu irmão ser procurador em Aveiro e ter em mãos o processo “Face Oculta” e de o seu pai ter sido director da Polícia Judiciária, aspectos que achava que eu devia ter em devida consideração”, conta Cavaco no livro de memórias.
Fonte: ZAP