Os alunos de Medicina que completaram o Ensino Secundário em estabelecimentos de ensino privados registam maiores taxas de reprovação na universidade do que os alunos provenientes de escolas públicas. Estas são algumas das conclusões de um estudo científico do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS).
Segundo o Jornal de Notícias (JN), mesmo nos casos de escolas privadas que não inflacionam notas, os alunos saem pior preparados. Perante as conclusões, os investigadores alertam: investir no ensino privado até pode garantir a entrada no curso, mas está longe de assegurar uma formação de qualidade.
Cristina Santos, investigadora do CINTESIS e também docente na FMUP, revelou ao JN que, ao longo dos anos, foi notando que “alguns alunos estavam apenas focados em estudar para o exame” e, a maioria desses alunos, tinha completado o secundário no ensino privado e registava piores classificações.
De acordo com as conclusões do estudo, no primeiro ano do curso, a taxa de reprovação a pelo menos uma unidade curricular dos estudantes do privado foi de 43%, face a 34% dos alunos do público. Em média, os alunos do privado apresentam notas mais baixas que os do público até ao quinto ano de formação. A tendência esbate-se ao longo dos anos, invertendo-se muito ligeiramente no sexto ano.
A investigação vai ainda mais longe e compara alunos de Medicina de escolas – quer públicas, quer privadas – que inflacionam notas das que não os fazem. E os resultados vão ao encontro das primeiras conclusões: os estudantes de escolas privadas, tanto das que inflacionam as notas como das que não o fazem, estão mais mal preparados do que os do público.
“Mesmo nas escolas que não inflacionam as notas, há diferenças na preparação dos alunos e as públicas preparam melhor do que as privadas“, nota a investigadora.
Para Cristina Santos, esta situação resulta “numa dupla injustiça“. Por um lado, os alunos entram na faculdade com notas inflacionadas, o que faz muita diferença em cursos competitivos como é o caso da Medicina. E, por outro lado, estão mais mal preparados que os colegas das escolas públicas.
O estudo avança ainda que 48% dos estudantes admitidos na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), entre 2009 e 2014, fizeram o Secundário em escolas que inflacionaram as notas nos respetivos anos.
O estudo analisou os resultados de 1700 alunos da FMUP, entre 2007 e 2017, e foi publicado no passado mês de março na revista científica BMC Medical Education.
A questão da inflação das notas já havia sido debatida em fevereiro deste ano, quando foi divulgado o Ranking das Escolas 2017. O colégio que ficou em primeiro lugar no Ranking das Escolas 2017 é uma das 16 escolas que inflacionam, sistematicamente, as notas dos seus alunos, segundo dados do Ministério da Educação.
Desde 2012 que 16 escolas secundárias dão sempre notas mais altas do que seria esperado, segundo dados do Ministério, que revelam ainda que há mais duas escolas com este procedimento em relação ao ano anterior.
Os colégios são quem mais inflaciona as notas: das 16 escolas, 13 são privadas e três são públicas, um procedimento que pode permitir a um aluno passar à frente no acesso ao Ensino Superior.
Fonte: ZAP